Após ter dormido na metade do filme..
Acordei meio ressabiado ao som do despertador. Fiquei tranquilo em seguida, não havia motivo para alarde, eram apenas sete horas. Pensei em cumprir a rotina diária, banheiro, cozinha, escritório. Lembrei do final do filme que não vi e recriei um ambiente de aventura que me reconduziu ao sonho. Despertei, agora já eram mais de oito horas. Pulei a fase da aguinha no rosto e fui direto ao trabalho. Computador ligado, tudo on-line, fone preparado. Lá estava eu, pronto para mais um dia daqueles. Em frente ao monitor a reação é mecânica, abri o navegador comecei a desempilhar a avalanche abstrata de e-mails, ansiava por algum sinal de vida. Mesmo sem sucesso eu estava feliz, afinal, nenhum usuário tinha me importunado, ainda. Foi o sinal que precisei para retomar o plano inicial. Mas, como não poderia ser diferente, bastou colocar a escova na boca para ser atingido pelo agudo e desagradável zumbido do telefone. Com pressa, o resto da manhã terminou assim, sem graça, baseado nos procedimentos que aprendi em algumas horas de treinamento e experiência prática.
Para o almoço esquentei o resto de ontem e senti um vazio momentâneo. Tudo bem, conforme a comida entrava, as ideias se reorganizavam. Mas, ao ver a televisão desligada, pensei no mundo ilusório das campanhas políticas e o desgosto me expulsou da introspecção. Caiu em minha cabeça o aluguel que ainda não estava pago. Banheiro, chave na porta, fila do banco e lá se vai uma semana de vida no minienvelope amarelo.
Por falar nisso, já era hora de voltar a produzir. Fiz tantos atendimentos no trabalho de suporte técnico nos últimos dias, era impressionante que só não conseguia atender minhas próprias responsabilidades, com a faculdade, os amigos e o ócio criativo. E lá estava eu novamente pronto para mais uma tarde de trabalho entediante. Sigo o padrão, recebo as reclamações com educação e bom humor apesar de que, com o tempo, o ritmo frenético e a rotina desgastam qualquer ânimo extra. No escritório, a primeira surpresa agradável do dia foi viajar no tempo, regressar ao passado, a internet não estava funcionando! Sorriso na cara, Liberdade! Foi o que me veio a cabeça! Após alguns telefonemas a resposta de sempre: “vou verificar a situação e entro em contato assim que tiver uma posição”. Hora de aumentar o som e, depois da sessão pipoca, fiquei triste com o desfecho do filme. Poderia ser melhor, como a vida, que poderia ser mais bela. Pensei em sair, tomar um suco, visitar uns amigos, sei lá. Mas lembrei-me da faculdade, dos trabalhos por fazer, de como é bom jogar tudo para o alto e viver. Mas, como bom operário, optei por terminar todos os afazeres, ao sair me arrependi disso, uma cerveja gelada cairia bem melhor. Eram seis e meia da tarde, fui para a universidade torcendo para que no outro dia a rede continuasse morta. Apesar de ser ateu, até rezei para isso. Tudo em vão, no outro dia todos os ponteiros se moviam com o ritmo de sempre, lembrando que a vida está acabando. O fato é que até hoje tenho saudades daquela tarde e dos seus minutos lentos. Pode parecer um nada, para quem nada tem a fazer, mas para alguém que já está tão submisso, alguém como eu. Ah! Foi um dia daqueles.