Faltavam 5 minutos para a morte chegar,
tinha náuseas e mantinha-me escorado em qualquer canto, parede ou banco. Mentira!
Faltavam 4 minutos e 47 segundos para a morte chegar, tinha náuseas e mantinha-me de pé sem aquela tradicional segurança, meus ossos tinham amolecido e minha carne formigava dos pés às pontas da mão. Pensamentos vinham, iam, a vontade inexistia e o relógio continuou a marcar com a mesma crueldade da guilhotina que degola em câmera lenta, era assim o mundo agora. Lasso, ingrato, sem a mínima convenção ou regra.
Faltavam 3 minutos e duas unhas para roer, a carne estava mais grossa, mãos em sangue, olhos pesados mas forçosamente vidrados no tempo que por capricho parecia me enganar.
Faltavam 3 minutos e 32 segundos e a morte já era secular, a vida, essa sim! Miserável, me estuprava sem pudor, não eram lembranças, vozes, pequenos ruídos, era apenas eu.
Faltavam 3 minutos e 20 segundos. A verdade era inevitável. Meu maior anseio era manipular mais uma vez os chavões: Bom dia! Tudo ótimo! Boa noite! Mas chega aquela altitude onde os pulmões não correspondem a expectativa.
Dor, nem sei mais seu significado. Tentava escolher imagens mas todas estavam bloqueadas, faltavam 3 minutos e o tempo parecia um velho malandro a trapacear segundos.
Ah! Ah! Ah! Prazer, nunca te conheci tão nu, tão belo. Faltavam 2 minutos para o mistério vir à tona.
…
…
Faltavam 2 minutos e 30 segundos.
… Olho para frente …
… Respiro fundo …
… Abaixo a cabeça e vejo novamente os meus pés …
… Solto o ar …
… A palma da mão disfarça-se de toalha e abranda o terror que encharca a testa …
… Posso ver o brilho, a desgraçada brilha, maldita palma …
… Então eu lambo, é salgado, gostoso …
…
Falta 1 minuto! E eu já consigo pensar com uma maior tranquilidade, será que alguém vai se lembrar de quando aqui estive e a razão preguei? A moral? O engajamento? Esforço? O sorriso apenas? Os erros somente? Um ou outro momento de furor? Talvez.
Grita! A sineta é uma marcha fúnebre. Todos voltam aos seus postos.
O chefe me espera, e eu..